O JOGO DO CONTRÁRIO EM AVALIAÇÃO
HOFFMANN, Jussara. O jogo do contrário em avaliação. Porto Alegre: Mediação, 2005, p. 13.
Observar um por um
“Como se dedicar intensamente a aluno por aluno no contexto de 35 a 40 estudantes falantes, barulhentos, curiosos, por vezes agressivos, desinteressados?
Muitas e muitas vezes, diante da impossibilidade de observar e cuidar de cada um, o olhar vagueia pelo todo, abarcando o grupo, na superfície do coletivo. Desiste-se do envolvimento com cada aluno, antevendo a dificuldade que representa.
O olhar avaliativo, então, permanece periférico, genérico, circunstancial. Destaca-se, por freqüência de episódios, o aluno que pergunta bastante, que participa das atividades, que conversa alto, que se agita na sala. Mas, de fato, não se sabe o que se viu, realmente – formas indefinidas a partir de observações esporádicas e impressões ocasionais. E se os estudantes falarem todo o tempo sobre o conteúdo da aula? E se a pergunta for mera repetição de sentido? Em meio a tantas dificuldades que os professores vêm enunciando em avaliação, será possível avançarmos? Por onde começar?
Meu convite é modesto. É miúdo e homeopático. Penso que se pode começar pequeno, pelo exercício de avaliar melhor alguns alunos, para ampliar essa ação com o sentimento de que pode ‘dar certo’.
O grande passo, na verdade, em termos de avaliação mediadora, é deixar de ver todos os alunos de uma sala de aula para pousar o olhar, sereno e tranqüilo, em cada um, porque o ‘todos’ é o maior fantasma da avaliação.
Há muito a fazer pela aprendizagem de todas as crianças por conta da massificação do ensino, da desvalorização e da falta de formação dos educadores. Na corrida desenfreada do instrucionismo, do dar conta dos conteúdos, das apostilas, dos inúmeros fazeres e dos compromissos nas escolas, os professores correm atrás do tempo e os estudantes correm atrás dos professores. As aprendizagens ficam para trás. Muitos alunos ficam esquecidos no meio do caminho.
Quem acompanha a quem? Fala-se muito em avaliação como acompanhamento e como investigação dos processos de aprendizagem, mas se investiga pouco ou quase nada. O professor chega onde quer ou onde a escola estabelece que deve chegar, sem ter como saber onde os alunos se encontram de fato, se aprenderam ou não até ali ...
[...] É preciso um olhar sereno, intenso e dedicado sobre histórias de vida dos alunos e de suas trajetórias individuais de aprendizagem no sentido essencial da mediação.
Em termos de práticas avaliativas, pretendo dizer que tudo o que se baseia no coletivo, na turma inteira, do que só vale, ‘se vale para todos’, deixa muitos alunos no anonimato: os objetivos que a maioria alcança, a tarefa que a maioria faz, o interesse que grande parte demonstra, o livro que quase todos leram. Ao contrário, o caminho da aprendizagem deveria ser sempre considerado único, singular, como a vida de cada um.
É preciso fazer o exercício de ‘aprender a olhar’ aluno por aluno, conhecendo seu espaço de vida, suas iniciativas, seu fazer de novo, seus afetos e desafetos, dissonâncias, seus piercings e tatuagens, o inusitado, tantas vezes.
Acredito que um por um, cada professor pode fazer sua diferença, deixando marcas positivas nos estudantes com quem interage. [...] pensar em cada aprendiz de uma sala de aula, acabando com os anonimatos, valorizando-os como sujeitos de sua própria história, assumindo o compromisso, como educadores, de otimizar tempos e oportunidades de aprender”.
Realmente, essa não é uma tarefa fácil. Entretanto, por ser uma tarefa demasiadamente necessária, todos nós educadores temos que reunir esforços e abraçar essa causa.
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